SOPRO - JAIME PRADES
24/04 - 12/06
Artista Jaime Prades
SOPRO
Fábio Magalhães
A expressão plástica de Jaime Prades está em permanente transformação com desdobramentos poéticos recorrentes. Não obstante, grande parte dessa dinâmica se dá revisitando sua própria obra e refletindo sobre ela, sobre o já construído, para refazê-la, transpassá-la através de transgressões continuadas. Preocupação incessante do artista de mover-se, de ir além, de partir para novos caminhos.
A Galeria Andrea Rehder arte contemporânea apresenta um conjunto de obras recentes do artista, realizado entre os anos 2018 e 2021. A exposição revela o frescor de sua linguagem atual e a adoção de um novo percurso gráfico que dialoga com o pictórico. Nos trabalhos desta mostra, Jaime Prades estabeleceu dois atores visuais que interagem entre si, guardando suas identidades – a grafia de expressão forte e de permanente agitação (atividade); e o pictórico, de repouso e harmonia (passividade).
A exposição Sopro traz uma poética inquietante, e para realizá-la o artista transformou radicalmente sua paleta de cores, estabeleceu uma nova plástica. O espaço que era fragmentado e tensionado, agora se apresenta contínuo, com tonalidades difusas. Nos amplos espaços sinfônicos de luz e de cor surgem zonas ondulantes de linhas que se agitam no vasto espaço de tonalidades reverberadas, sugerem conceito do taoísmo, do Yin e Yang que representam a dualidade de tudo que existe no universo.
Jaime Prades desenvolveu uma técnica harmônica e integrada entre o lápis e a tinta a óleo. Enquanto a gráfica impõe intenso movimento, a expressão pictórica, por sua vez, sugere imobilidade, talvez um lento mover-se, como algo que se move na imensidão contínua do universo. Essa fusão entre contrários gera uma poética cheia de energia, de mistério e de magia. A dinâmica conturbada dos elementos gráficos coabita com o lirismo das paisagens nebulosas.
Ao construir a difícil e bela relação entre a expressão gráfica e pictórica, o artista cria metáforas de tempo, entre o efêmero e o permanente nos contrapontos de repouso e de movimento.
A exposição traz, também, um conjunto de trabalhos intitulados “Mandorlas”, com forte protagonismo gráfico, formado por linhas ondulantes concêntricas que formam um todo, espécie de território, na parte central do suporte. Certamente, esses trabalhos aludem às mandalas, que em sânscrito significa círculos, e eram usadas em rituais de meditação – espécie de imagem e referência do mundo.
Há ainda duas assemblages, construídas em alumínio, aço, ferro e madeira. Nelas, o artista expressa de modo tridimensional poéticas semelhantes às obras bidimensionais. É importante ressaltar que Jaime Prades se dedica de modo continuado e com amplo domínio à expressão tridimensional.
Ao ver as obras desta exposição, noto que algo me faz lembrar a atmosfera de Gustav Klimt , mas devo estar sonhando.