FERNANDO SOARES
Fernando Soares (1988) nasceu em São Paulo, onde reside e trabalha.
Partindo de sua pesquisa em pintura contemporânea expandida e através de um processo criativo com base na arte têxtil e predominantemente escultórico, investiga a tangibilidade da imagem criando tensões físicas em suas pinturas, através de tramas e sobreposições de materiais maleáveis e flexíveis como o látex. Seu trabalho se expande e transborda para o campo tridimensional investigando a materialidade da imagem e da forma para um campo tangível e palpável.
Explora também outros tipos de tensões voláteis, no âmbito físico ou psicológico, através de vídeos e instalações que abordam questões de dicotomia e atritam a relação e a dinâmica complementar entre os opostos.
Inicia seus estudos e produções de maneira autodidata aos 17 anos, para posteriormente ingressar no Hermes Artes Visuais (2016 – 2021), onde participou por 5 anos na elaboração de projetos e orientação de sua produção, supervisionado por Nino Cais, Carla Chaim e Marcelo Amorim.
Recebeu prêmio de primeiro lugar no “48° Salão de artes visuais Novíssimos” (Rio de Janeiro, 2019) e prêmio de primeiro lugar no “11° Salão dos artistas sem galeria” (São Paulo/Belo Horizonte, 2020) realizado na Galeria Zipper, Lona Galeria e Galeria Murilo Castro. É representado em São Paulo pela galeria Andrea Rehder Arte Contemporânea.
Seu trabalho integrou acervo do Museu Têxtil (New Orleans, USA, 2023) e participou de diversas exposições coletivas e individuais em galerias, salões, feiras e instituições, dentre eles destaca-se: “Irrupção – Corpo Invasivo” (Galeria Andrea Rehder 2021, São Paulo); “Paço das artes – Temporada de projetos 2020” (São Paulo); “SAV (Salão de artes visuais de Vinhedo)” (Centro Cultural “Engenheiro Guerino Mário Pescarini, 2022); “Physiognomy in contradiction” (Museum of Northern History, Ontário, Canada, 2022); “51° Salão de arte contemporânea de Piracicaba” (Pinacoteca Miguel Dutra, 2019); “8° DAP Londrina” (Londrina, 2020); “26° e 27° Salão de artes plásticas de Praia Grande” (2019, 2021); Participou de residências artísticas no Kaaysa (Boiçucanga, 2019) e residência Projeto Rizoma na galeria Andrea Rehder Arte Contemporânea (São Paulo, 2019). Cria o grupo “TREM Artes Visuais, 2021” junto ao artista Adriano Franchini, onde há mais de 4 anos atua como orientador, lecionando virtualmente diversos artistas, além de ser convidado como curador no programa Casa Tato 7.
MÍDIA
No representation, no problem: The Salon Of Artists With No Gallery returns for eleventh year
As polaridades desenvolvidas em arte pelo artista visual Fernando Soares
CV
EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS
2021 Irrupção: Corpo invasivo, Galeria Andrea Rehder, São Paulo, Brasil
2015 Transmutação Pictórica, Galeria Verve, São Paulo, Brasil
2014 Alforria da Visão, Galeria Luis Maluf, São Paulo, Brasil
2013 Invisível aos Olhos, Espacio Uruguay, São Paulo, Brasil
EXPOSIÇÃO COLETIVAS
2023 Tecer, encaixar, acumular, Galeria Andrea Rehder, São Paulo, Brasil
2022 Physiognomy in contradiction, Museum of Northern History, Ontário, Canada
2020 Apropriações, Galeria Lona, São Paulo, Brasil
2019 Anatomia de uma convivência, Galeria Rabieh, São Paulo, Brasil
2019 No dia primeiro, no nono andar, Galeria LAMB, São Paulo, Brasil
2018 Sobe o sol ou a noite desce?, VÃO espaço de arte, São Paulo, Brasil | Curadoria: Nino Cais e Carla Chaim, Texto: Marcelo Amorim
2018 Arte formatto , 1º Semestre, São Paulo, Brasil
2016 Equilibrium ,Galeria Verve, São Paulo, Brasil
2015 SP ESTAMPA – Circuito de mostras de gravura, Galeria Verve, São Paulo, Brasil
2014 Pintura e colagem, Casa do olhar Luiz Sacilotto – ProAc, Santo André, Brasil
2014 Tramas e manchas, Espaço cultural água branca, São Paulo, Brasil
Brasileira, São Paulo, Brasil
CURSOS EXTRACURRICULARES
Representado pela galeria Andrea Rehder – São Paulo
2021 Integra o “Acervo Rotativo” Idealizado por Laerte Ramos
2021 Leciona cursos de portfólio, expografia e NFT nas artes visuais no Lux Espaço de arte
2020 Leciona junto do artista Adriano Franchini acompanhamento e mentoria em arte contemporânea – Grupo TREM Artes visuais
2016 – 2020 Hermes - Acompanhamento de Projetos com Nino Cais, Carla Chaim e Marcelo Amorim, São Paulo, Brasil
2019 Residência Kaaysá, São Paulo, Brasil
2019 Projeto Rizoma, Galeria Andrea Rehder, São Paulo, Brasil
SALÕES / EDITAIS
2022 SAV (Salão de artes visuais de Vinhedo), Centro Cultural “Engenheiro Guerino Mário Pescarini”, São Paulo, Brasil
2021 Paço das Artes – Temporada de projetos 2020, Sede Paço das Artes em Higienópolis, São Paulo, Brasil
2021 27° Salão de Praia Grande, Complexo Cultural Palácio das Artes, Praia Grande, Brasil
2019 11° Salão dos artistas sem galeria, Galeria Zipper/Galeria Lona/Galeria Murilo Castro, SP/MG, Brasil
2019 48° Salão de Artes Visuais Novíssimos, Galeria de arte IBEU, Rio de Janeiro, Brasil
2019 Arte Londrina 8, DAP Londrina, Paraná, Brasil
2019 51° SAC (Salão de arte contemporânea de Piracicaba), Pinacoteca Miguel Dutra, São Paulo, Brasil
2019 26° Salão de Praia Grande, Complexo Cultural Palácio das Artes, Praia Grande, Brasil
PRÊMIOS
2020 Primeiro lugar no 11° Salão dos artistas sem galeria, Galeria Zipper/Galeria Lona/Galeria Murilo Castro, SP/MG, Brasil – Organização: Mapa das artes
2019 Primeiro lugar no 48° Salão de Artes Visuais Novíssimos, Galeria de arte IBEU, Rio de Janeiro, Brasil
FEIRAS
2022 SP ARTE, São Paulo, Brasi
2021 SP ARTE, São Paulo, Brasil
2021 Feira Fargo, Goias, Brasil
2020 SP ARTE, São Paulo, Brasil
2020 FEIRA CHACO, Santiago, Chile
2019 Feira PARTE, São Paulo, Brasil
TODO GESTO É COMIDO PELO TEMPO
Paulo Gallina
O trabalho do paulista Fernando Soares explora a pintura em seu campo expandido. As estruturas plásticas exploradas na mostra Força volátil no Paço das Artes continuam sua especulação sobre forma e conteúdo condensados em imagem. Para entender essa meditação sobre o limite das formas, entretanto, é preciso antes conhecer em certa medida como este pintor acaba por abandonar completamente a separação entre figura e fundo para superar a dicotomia abstrato-figurativa.
Fernando instruiu-se como pintor. Estudou a história da arte, as composições dos mestres e treinou-se no uso das técnicas em tinta acrílica e tinta óleo. Em tempo, o artista [inquieto como artistas costumam ser] passou a explorar os limites desse suporte. É preciso entender, para um pintor, tinta e tela não são coisas banais que conjuram imagens. Não demorou até Fernando começar sua pesquisa como uma presença.
Ao ponderar sobre como as imagens e o mundo interagem, o artista passou a tirar primeiro as figuras, a seguir a própria figuração de mundo para, por fim, entender que sua pesquisa e os trabalhos que dela decorriam superavam a opressora limitação entre a figuração e a abstração. Neste momento, restava apenas pintura como objeto.
Forma e conteúdo, enfim, expressavam inequívoca e unicamente. A obra 72 (respiração II) da série Força, 2021, é um bom exemplo do resultado desse processo. Veja-se, neste painel [um apelido carinhoso do artista para com sua criação], o pintor nega qualquer qualidade de representação [seja figurativa, seja abstrata] sem negar a potência do pensamento da pintura. Aqui não há gesto, a composição é relativamente simples: são tiras de látex dispostas entre linhas verticais, horizontais e transversais; não há paleta de cor; não há jogo geométrico; e, ainda assim, há uma estrutura simbólica complexa a ser observada, em tempo. Tempo é um conceito importante para o entendimento desta obra e da pesquisa do artista como um todo.
Se não existem as estruturas típicas de uma composição pictórica, sobre o que Fernando Soares pondera em 72 (respiração II)? O que o artista está propondo aqui é a presença como significado, pois diante dos olhos resta apenas a matéria do mundo. Ou seja, a matéria para Fernando é signo e significado, decodifica-la é entender sua vida, sua história e os caminhos que nos trouxeram até o presente, que está sempre escapando um instante depois do outro. O tempo age sobre o látex, mais do que isso, o artista não tem nenhum pudor em revelar que a matéria prima de suas pinturas eram câmaras de bicicletas descartadas por um motivo ou outro, pelo contrário, há registros dessa origem por todo o painel 72.
Ao reunir matéria e conteúdo, Fernando refuta o gesto, porque seu trabalho não guarda o tempo. Tampouco a imagem passageira da paisagem em constante mudança. Ao refutar essa matéria prima tão banal do fazer em pintura [i. e. o gesto], Fernando Soares parece estar reafirmando que seu trabalho vive e respira no tempo, através dele, assim como nós, os viventes.
Em contrapartida o políptico Linguagem matérica II, 2021, avança sobre este mesmo tema, porém, especulando sobre como formam-se os signos e seus significados. Dispostas como um alfabeto em salas de alfabetização infantil, as tiras de látex formulam desenhos. Enroladas sobre si, pressas por um sutil prego e sujeitas apenas à ação da gravidade, o que na obra 72 estava tensionado, em Linguagem matérica II revela-se relaxado. Essas formas são como hieróglifos antes da descoberta da pedra Roseta, mistérios que pedem um pouco de imaginação e um pouco de história para servirem ao seu propósito e comunicarem o intento do artista.
Com esse procedimento entre o desenho e o objeto, Fernando Soares reitera a presença como anterior aos significados que ela pode sugerir. A imaginação invade a Linguagem Matérica na invenção de significados nos indivíduos, conquanto a história, por sua vez, está refletida nessas projeções especulando, ao fim ao cabo, algum sentido para a vida. O artista, com essas duas peças, reitera que forma e conteúdo, meio e mensagem, são inseparáveis, talvez seguindo [e, talvez, levando ao limite] a máxima de Paul Klee “a arte não reproduz o [mundo] visível; ela torna visível”.
Se 72 (respiração II) e Linguagem Matérica II falam sobre a presença como elemento que constrói o significado, os vídeos que compõe esta exposição, Uhum-Humhum (2020) e Anima (2019), por sua vez vão demonstrar como a maioria dos gestos e sons são, em verdade, uma tentativa vã de superação da fronteira que é a pele. Veja, se a presença promove significados, estes só serão acessados depois de compreendidos por um sujeito que carrega toda a dor e alegria que o levaram até o encontro com essas peças. Sendo assim, a repetição sonora em seus ciclos insinua a possibilidade de não compreensão e um retorno ao que seria o inicio, porém o inicio de uma repetição – de um vídeo em loop, por exemplo – ainda é um inicio? Para além dessa busca por uma origem, as contraposições apresentadas nos vídeos também parecem apontar sobre como a polarização que distância sujeitos por os colocarem em uma ou em outra ponta, em verdade são partes de uma unidade.
Ao mirar o mundo por sua unidade e não pela especificidade dos indivíduos ou das coisas, Fernando Soares parece perguntar-se se o pulsar vivo de suas obras, sempre sujeitas à temperatura do ambiente e à ação do tempo, não é a vida das coisas. O tempo, inescapável assim como a gravidade, dá vida às peças de Fernando Soares por habilitar o pulsar dos materiais. Se as formas foram escolhidas pelo artista, o caráter cíclico que os vídeos assumem no espaço expositivo somado à movimentação imprevisível das peças em desenho e pintura [respectivamente, Linguagem Matérica II e 72 (respiração II)] se fazem no tempo. Sendo devorados pelos viventes um segundo após o outro, os trabalhos que encontramos em Força Volátil são como os gestos diários invisíveis do cotidiano destacados.