ABISMO
23.03.2024 - 03.05.2024
artista: Rodrigo Pedrosa
curadoria: Rafael Fortes Peixoto
ABISMO
Rafael Fortes Peixoto
As esculturas de Rodrigo Pedrosa revelam: caminhamos para o abismo. A sociedade, banhada pela lama das desigualdades e das injustiças, perde cada vez mais o senso de comunidade. A individualidade torna-se necessária e a indiferença vira um remédio amargo de uso diário. A solidão ocupa os vazios, disfarçada entre selfies e lifestyles, nas promessas de corpos perfeitos, vidas perfeitas e momentos maravilhosos. O olhar, confuso e turvo, não enxerga no outro o próprio reflexo.
Como denúncia para um despertar de consciência, as peças de Pedrosa chamam a atenção para figuras humanas em condições extremas, retorcidas, submersas, emparedadas e fragmentadas. O corpo reflete quem somos no mundo, nossas dores, angústias, amores, alegrias e esperanças. Do corpo, parte a necessidade de buscar novos horizontes, de nos reconectar com nossa essência animal e espiritual e com nossa condição de seres que coexistem. Afinal, o que é ser humano?
O artista, como uma lente que amplia o que vê, vive e sente, demonstra estas questões através de obras de grande carga dramática. Suas figuras se relacionam com uma história da escultura, de referência barroca, por exemplo. Como um desdobramento contemporâneo do expressionismo, elas subvertem o uso de materiais tradicionais, como o gesso, a cerâmica e as resinas, em benefício de um processo de experimentação que divide, agrupa, aglomera, isola e multiplica – paradoxos formais e poéticos.
Esta mostra, apresentada pela primeira vez em 2023, no MAC-Niterói - Rio de Janeiro, ganha outras dimensões ao ocupar os espaços da Galeria Andrea Rehder. Da escala pública, do contato com a paisagem e com a arquitetura de grandes vãos do museu, as obras agora estabelecem relações com seu aspecto mais intimista, inerente aos espaços fechados. Aqui, as proporções e perspectivas vão provocar diferentes experiências. Mesmo assim, diante os abismos privados, do mercado, da existência e da intimidade fica ainda a questão: à iminência da queda, podemos ainda voar?