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CORPO DA IMAGEM

24.08.2024 - 04.10.2024

artista: Fernando Soares
texto curatorial: Thierry Freitas

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CORPO DA IMAGEM

texto de Thierry Freitas

Fernando Soares (São Paulo, 1988) tem explorado as diversas possibilidades que a borracha, em toda sua sedução elástica, tem a nos oferecer. É com este material ordinário que o artista desenvolve uma obra de difícil classificação: a todo o tempo, Soares flerta com conceitos caros ao campo da escultura, como tensão e equilíbrio; formalmente, está interessado em discussões pictóricas como composição, cor e a formação das imagens - o que o aproxima da prática de um pintor; por fim, arrisco dizer que um espectador desavisado, ao vê-lo em ação, poderia associar seu ofício ao de um artesão têxtil.


Nesse balaio de categorizações mora um corpo de trabalho de grande esmero técnico e complexidade compositiva. Suas telas não são meras áreas lisas em busca de preenchimento, tratam-se de superfícies que entremeiam pequenos quadrados de tamanhos iguais, uma trama ora preenchida por borracha branca, ora vazia, à espera de um enlace.


Como quem borda em uma talagarça, o artista produz imagens de aspecto geométrico e racionalista. Fernando tem buscado não apenas representar efeitos, mas simulá-los. Dessa maneira, as últimas obras da série "Irrupção", seu trabalho contínuo e sem fim previsto, emulam fenômenos físicos como som e movimento. Nesses casos, é muito comum que as ilustrações na tela se dividam ao meio, e as formas nasçam a partir de um jogo de espelhamento: para cada ponto de cor que aparece a partir da união entre borracha e fundo, há um correspondente semelhante no outro lado do quadro.


Ao contrário de uma pintura tradicional, nos trabalhos de Soares é quase impossível ignorar ou camflar o suporte. Inversamente a tinta, que consegue se espalhar e cobrir grandes áreas, o material utilizado por Fernando não é passível de diluição ou dissipação. A tonalidade das cores, então, se relaciona diretamente com a intensidade e a aparição do fundo, o que torna o tensionamento físico e cromático entre composição e suporte o cerne de grande parte de sua produção.


"Corpo da Imagem", exposição que o artista apresenta na galeria Andrea Rehder, inclui duas novas séries, ambas interessadas em associar a matéria física das obras a corpos vivos e orgânicos. Em "Nu e Cru", as telas em branco não são preenchidas, e sim cortadas, repartidas e dobradas. Como resultado, surgem trabalhos que condensam grandes áreas vazias e partes com acúmulos de "pele" que geram sombras e volumes em si mesmas. Já em "Troca", Fernando avança na investigação ao redor de seu material de uso habitual. As mangueiras de borracha, até então repartidas ou cortadas em finas tiras, agora são removidas em estratos. Ao revelar as camadas internas unidas com precisão através do processo industrial, seu desejo não é abordar a maneira de construção desses objetos, mas utilizá-los tanto como uma analogia ao biológico, quanto para destacar a sua vultuosidade (o aspecto matérico da imagem) enquanto obra de arte.


Embora as mangueiras, lado a lado, possam se assemelhar a um objet trouvé, o encanto da composição reside em aspectos caros ao campo do tangível: a relação entre as cores, a dicotomia entre o opaco e o brilhoso, a sutil diferença de espessuras entre uma tira e outra. Se antes, como comentado acima, seus trabalhos tinham relação direta com o suporte, nesses o material assume uma autonomia inédita e se apresenta como um estrutura voluptuosa, molenga e atraente. Um corpo à mercê do mundo.

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