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CÉSAR OITICICA FILHO

César Oiticica Filho (Rio de Janeiro, 1968) é artista, cineasta e, desde 1997, curador do Projeto

Hélio Oiticica. Sua pesquisa transita entre a pintura e a fotografia, explorando os multimeios

que conectam as artes plásticas e o cinema. Formado em Comunicação Social pela Faculdade

da Cidade (1992), César também cursou Cinema na New York Film Academy (2007).

 

Sobrinho de Oiticica e atualmente diretor do Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, César foi

curador responsável pelas exposições “José Oiticica Filho: Fotografia e Invenção”, “Hélio

Oiticica: Penetráveis” (Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, Rio de Janeiro, 2007 e 2008) e

“Museu é o Mundo”, com curadoria assinada juntamente ao Fernando Cocchiarale e que em

2010 ganhou o prêmio ABCA. Também merece destaque o prêmio Caligari, que César ganhou

no Festival Internacional de Cinema de Berlim.

CORLUZ

Paula Borghi

Existem alguns caminhos possíveis para se adentrar à obra de Cesar Oiticica Filho, que perpassam tanto um lastro histórico familiar, como um embasamento teórico de quem referencia a filosofia da percepção e como um compromisso com a história da fotografia. É por esses trajetos que CORLUZ nos conduz, agindo como um elogio aos que vieram antes, ampliando o campo relacional da arte e se comprometendo em manter viva a materialidade fotográfica, por mais que sua configuração analógica se encontre cada vez mais obsoleta.


Por um olhar genealógico, o artista é neto de José Oiticica Filho (pioneiro da fotografia concreta no Brasil), filho de Cesar Oiticica (arquiteto e artista integrante do Grupo Frente) e sobrinho de Hélio Oiticica (referência da arte brasileira e idealizador da Arte Ambiental). Pela influência de seu pai, que por sua vez é influenciado por seu avô, Cesar Oiticica Filho começa fotografar desde muito cedo e aos 13 anos de idade participa de sua primeira exposição com uma fotografia das linhas do chão da praça do mercado de Manaus, cidade onde passou a infância. Dando continuidade ao pensamento gráfico que atua tal qual um sintoma familiar de um saber passado de geração à geração, sua paixão pela geometria começa dentro de casa, assim como sua paixão pela cor.


Não há dúvida que seu avô é sua maior referência, um homem que nos anos 1950 já afirmava que a máquina fotográfica, como os demais meios técnicos que entram no processo fotográfico, tem o mesmo papel que o pincel, a tinta e a tela para o pintor. Logo após, no anos 1960, seu tio complementa tal pensamento ao dar sentido de luz para a cor material e opaca em si. Em continuidade, o que se tem nesta exposição é exatamente o prolongamento de tais ideias pela justaposição entre a cor da luz que é emanada no processo fotográfico e a cor do pigmento que é absorvida no ato de pintar; numa superposição de interações.


Por mais visível que seja a constituição da produção de Cesar Oiticica Filho face a sua influência familiar, o que é muito bonito e próprio de sua formação como sujeito, ele dá um passo adiante neste caminhar e se debruça sobre um novo conceito: o da percepção quântica na relação cor luz. Partindo de cromos monocromáticos, ele os combina em composições sobre uma mesa de luz, que posteriormente são fotografados por uma câmera digital e impressos em tecido, para então serem pintados manualmente. Como menciona o próprio artista, “a partir do experimento acima, decidi promover esse encontro, entre a pintura quântica e a pigmentar, mas dessa vez acrescentando uma outra camada, invisível e transcendental relacionada a energia quântica que tudo permeia e que está latente em todas as coisas”.


Fisicamente a cor em pigmento se dá porque ela reflete e absorve seletivamente certos comprimentos de onda da luz, de modo que o que a retina encontra na exposição é exatamente esse fenômeno. Porém, constituído por um processo que ocorre em relação aquilo que é essencial do invisível, numa lógica de relacionar cor luz e cor pigmento, o artista une a linguagem analógica com a digital, sobrepõe temporalidades tecnológicas, entrelaça o sistema RGB com o CMKY e combina energias próprias de cada meio.


Nesta relação entre o visível e o invisível, é possível traçar uma metáfora entre a percepção quântica proposta por Cesar Oiticica Filho com a experiência fenomenológica de Merleau-Ponty. Enquanto o filósofo diz “eu não vejo segundo seu envoltório exterior, vivo-o por dentro, estou englobado nele”, pode-se interpretar que os trabalhos aqui presentes comunicam: a cor não existe sem a luz, ela vive por dentro, englobada nela. O resultado é a proposta de uma experiência fotográfica pictórica que vai além do visível, de modo que a percepção dessas linguagens artísticas torna-se um fenômeno integrado, tal qual a cor luz.


Deste modo, Cesar Oiticica Filho dá continuidade ao legado artístico, experimental, fotográfico e pictórico de seus antepassados e concomitantemente nos convida a enxergamos para além da retina, de corpo inteiro, e assim entrarmos em contato com ideias próprias do pensamento quântico.

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