AR
01.02.2025 - 15.03.2025
artistas: Antonio Pulquério, Bettina Vaz Guimarães, Fernando Soares, Jaime Prades, Katia Canton, Luciano Macedo, Rodrigo Pedrosa e Sheila Ortega
texto curatorial: Jaime Prades
![0. Convite.jpeg](https://static.wixstatic.com/media/207c20_26460dd426644cdfb7d4afed4d824a83~mv2.jpeg/v1/fill/w_451,h_479,al_c,q_80,usm_0.66_1.00_0.01,enc_avif,quality_auto/0_%20Convite.jpeg)
AR (23°33'57"S 46°40'34"W)
texto de Jaime Prades
[Respirar] condição essencial para a vida da quase totalidade dos seres do Planeta - da Mãe Terra, da Pacha Mama, de Gaia - sejam vertebrados, invertebrados, anfíbios, répteis, insetos, microrganismos...
Estamos emulsionados em uma substância de gases, a atmosfera. Essa bela palavra que aglutina Atmos (vapor) e Sphaira (esfera) revela-nos a definição precisa do seu significado.
O ar que inspiramos e expiramos, que entra e sai dos nossos corpos num vai-e-vem constante e nos preenche por instantes, evidencia o quanto é tênue o fio entre ser e pertencer.
Refletir sobre essa obviedade tem a virtude de nos lembrar que a troca e o compartilhar condicionam o acontecimento da vida, de que vivemos encapsulados numa substância gasosa que nos coloca em iguais condições diante de todos os seres vivos, humanos e não humanos.
[Inspirar] o ar comum que respiramos inspira a exposição coletiva AR, que propõe transformar o espaço da galeria em ateliê coletivo de parte dos artistas do seu time. Durante a primeira metade dos 40 dias de projeto, algumas das obras da exposição serão produzidas total ou parcialmente no próprio espaço expositivo em que serão apresentadas nos 20 dias seguintes.
Muitas são as práticas das artes plásticas que se entrelaçam na proposta da exposição AR: ateliê coletivo, ateliê aberto, laboratório, ocupação, ‘work in progress’, ‘workshop’, ‘site specific’, oficina, performance... Repleta de significados e ressignificações, ela foi concebida por Andrea Rehder para iniciar a programação de 2025 da sua galeria, após as celebrações dos seus 15 anos de atividade no circuito das artes plásticas brasileiras.
A galeria, ao abrir o seu espaço para jovens artistas com o projeto Rizoma e com a inauguração da exposição AR, se soma às tentativas de ressignificação dos espaços de arte que buscam reinventar-se como é o caso de museus, bienais, feiras e inclusive coleções. É urgente ativar territórios de arte que promovam o diálogo, a reflexão, a educação, o fortalecimento das humanidades e de uma cultura solidária, como antídoto à dominante virtualização e robotização das relações humanas.
[Expirar] seria ingenuidade negar a influência das plataformas digitais e da relação de dependência que elas impõem ao conjunto da sociedade. Nesse contexto, traçar estratégias de produção de conteúdos de qualidade para as redes é uma das metas do projeto da exposição.
A ocupação da galeria implica num deslocamento simbólico - ao inverter os papéis dos espaços galeria e ateliê – e cria um emaranhado de relações onde artista e obra se confundem.
Considerando que a prática artística acontece em geral nos ateliês, o ambiente de partilha promovido na galeria permitirá aos visitantes a rara oportunidade de vivenciar uma certa intimidade com os artistas e os seus processos de trabalho enquanto a função da galeria entra em um território difuso, transitório e ampliado.
Para os artistas, a Galeria é um dos espaços imaculados desejados para verem as suas obras nas condições ideais. E, se na cena da arte contemporânea não é raro acontecer de algumas galerias investirem na radicalidade das obras dos seus artistas, no caso desta exposição é preciso destacar que a radicalidade conceitual do projeto nasce da própria galerista.
[Suspirar] O encontro implica no deslocamento dos artistas até a galeria que, ao agrega-los, torna-se um ponto gravitacional, um núcleo de respiração, um corpo comum. Esse corpo/nave está posicionado num lugar exato planetário: 23°33'57"S 46°40'34"W, ou, avenida Brasil, 2.079, Jardim América, São Paulo/SP, Brasil - galeria Andrea Rehder de Arte Contemporânea.
A adesão dos artistas ao projeto sustenta-se na qualidade da nossa convivência na galeria. É nesse terreno afetivo que a exposição AR pode brotar naturalmente.
Ao contrário de Odisseu partiremos para essa aventura sabendo exatamente onde estamos. Munidos de sextante, dos muitos mapas disponíveis, nos orientaremos pela constelação do Cruzeiro do Sul inspirados pelo canto de Gilberto Gil, ...pela simples razão de que tudo merece consideração e, corajosamente, respiraremos os mesmos ares desses mares as vezes calmos, outras vezes revoltos, da capacidade humana das linguagens e da sua expressão mais íntegra: a Arte!
Jaime Prades
1 de janeiro de 2025