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ANTONIO PULQUÉRIO

Antonio Pulquério, é natural de  Campos Sales –Ceará. Vive e trabalha em SP.
Desenvolve sua  pesquisa primeiro com  cerâmica desde 1996. Em 2010 forma-se Bacharel em Artes Visuais pelo Centro Universitário de Belas Artes de São Paulo, onde passa  investigar outras linguagens e suportes como: Gravura, escultura e Instalação. A partir de 2019 começa a investigar  novos processos e procedimentos, entre eles a colagem e a performance. 
É a partir das colagens que outros significados vão sendo incorporados aos seus trabalhos, e assim, segundo o artista: Entre um ritual e outro, vai construindo corpos, rezas, credos, altares e porquê não dizer, outros mundos.

CV

Formação:

Bacharelado em artes Visuais pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo Gestão Cultural pela PUC Cogeae SP. Já participou de exposições Individuais e Coletivas, além de Salões de Artes e Residências Artísticas com destaques para:


Residências artísticas:

2021 - Moldar o Existir: Vivências Mediadas pelo Barro - Coordenação: Renata Felinto, Oficina Brennand  (02/09 a 01/10/2021)– Recife. PE 

2020 –  Meios e Processos – Mentoria Katia Salvany e Curadoria, Andrés I. Hernandez, Fundação Marcos Amaro    (19/03 a 16/12/2020)  Itu. SP 

Exposições: 

2022 – Artérias na Cerâmica – Coletiva na Galeria Andrea Arte Contemporânea.

2022 – OcupaFASAM – coletiva de pequenos formatos -  São Paulo . SP

2022 – O encontro é um lugar impossível -  Coletiva no Centro Cultural do Correios. SP

2021 -  Poéticas de Um outro – Belizário Galeria.SP

2021 – Encruzilhadas – Individual na Casa Contemporânea. SP

2021 – O que me atravessa –  Individual no Ateliê Cruzo. SP

2020 - Nosso CORPO Ritual – Coletiva no Subsolo Laboratório de Arte – Campinas. SP

2019 - Projeto Passa 4.5 – Coletiva no Subsolo Laboratório de Arte, Campinas. SP 

2019 - A origem é lugar Seguro - Coletiva - Casa Contemporânea. SP

2018 - Tudo está tão Perto – Individual no Museu Histórico da Universidade de Viçosa, MG

2018 - Para Sempre Será - Programa de Exposições - Museu de Arte de Ribeirão Preto. SP 

2014 – IV Vitrine de Arte de São Caetano do Sul. SP

2013 – Qual é o meu Papel? – Coletiva no Centro Cultural Parque da Água Branca.  SP

2010 – Cara a Cara – Coletiva no Centro Universitário Belas Artes. SP

2010 – V Bienal de Gravura de Santo André. SP

2009 – Experimentações Sonoro-visuais –Coletiva no  Centro Universitário Belas Artes. SP

2012 – 28º Salão de Embu das Artes

2012 – V Salão de Artes Plásticas de São José do Rio Preto – Menção Honrosa

2012 – 30º Salão de Artes Plásticas de Rio Claro

2011 – VI Salão de Artes de Suzano

2011 – IV Salão de Artes Plásticas de São José do Rio Preto – Menção Honrosa

ENCRUZILHADAS - OU SOBRE ONDE NOS ENCONTRAMOS

 Marcelo Sales

“As encruzilhadas nos apontam múltiplos caminhos,

outras possibilidades.”

Luiz Rufino, Pedagogia das Encruzilhadas


 Cerâmica e colagem são duas formas de expressão relevantes no que chamamos arte contemporânea, cada uma a seu modo.

A primeira, tão distante em sua arcaicidade, sempre oscilou entre o profano e o sagrado, entre uma utilidade cotidiana e outra cerimonial, em que, muitas vezes, as formas eram semelhantes para usos diferentes. A segunda é, relativamente, bem mais recente; deriva da possibilidade de reprodução de uma imagem, onde esta adquire novos significados ou interações pelo deslocamento de seu sentido original.

A utilização de ambas por um mesmo artista é arriscada. Menos por suas qualidades formais, como a tridimensionalidade versus bidimensionalidade, e mais pelas imanências que carregam, em dualidades de difícil convivência. É necessário que haja um liame forte elaborado pelo artista. 

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Antonio Pulquerio escolheu a cerâmica, mas pode ter sido escolhido por ela antes mesmo de sua decisão. A ancestralidade que se manifesta em suas peças é real. Ele diz que prefere pensar numa pesquisa e num fazer artístico que traga o sentido dos “rituais” de maneira plural e não dogmática para possibilitar o pertencimento de quem quer que seja.

Esse sentido de uma dualidade inclusiva, e não opositiva que marca o pensamento ocidental, tem sua melhor semelhança com a encruzilhada e as possibilidades que ela permite. A sala denominada sal da Terra é montada a partir desta premissa. O mesmo sal que aparece no Novo Testamento (em sentido figurado) da religião católica também aparece (como matéria real) nos banhos rituais da umbanda e do candomblé. Neste cruzo de religiosidades há também lugar para o profano. As cerâmicas ali expostas são constituídas por peças utilitárias, as vezes descartadas, ou por elementos que lembram algo do cotidiano. Para que a passagem do objeto banal à condição de ícone seja feita é necessária uma ação radical: o objeto utilitário tem sua função interditada condenando-o à inutilidade; é neste ponto, um ponto de transfiguração do que é comum, banal2, que ele pode tornar-se objeto da cultura e do culto, adquirindo uma qualidade aurática. Essa passagem de um estado a outro possui algo que não é da ordem do visível. O sal também se dilui na água, emprestando a ela seu sabor sem alterar seu aspecto geral.

Já as colagens presentes na sala denominada do que arde permitem o acesso total as imagens, nada está interditado. Porém este acesso total não é construído com as características hiperatrofiadas dos meios digitais. O objeto no qual pensamento e sensibilidade se formalizam acaba por possibilitar fruição; você está diante da imagem no mesmo espaço e essa convivência gera o atrito que Milton Santos tão bem identificou. É o espaço onde os símbolos se multiplicam e lutam pelo olhar do outro. E onde também este outro se reconhece e à sociedade à qual pertence. As imagens e as informações que carregam ganham consistência, ganham um corpo carregado de vivências e sabedoria. Carregado de mandinga3 .

...

Nas conversas com Antônio o conceito de cruzo se estabeleceu (não à toa, este é o nome de seu ateliê). E uma das imagens que vieram com força durante a concepção da exposição é de um cruzamento de caminhos, uma encruzilhada, na região de Brasília antes mesmo de Brasília existir4 (e lembro da frase de Emicida sobre Exu em AmarElo5). Essa reminiscência está presente nas obras Conceição e Nem todo céu, nem todo mar colocadas em pontos opostos de uma das salas. Não há oposição entre elas: é a possibilidade de que elas existam em sua individualidade, potencializadas pela presença da outra. Sincretismo religioso e filosófico, fé e ciência, profano e sagrado, enfatizando a troca dos “lugares” consensualmente estabelecidos ou ainda, como numa das obras da série aos teus olhos, colocando tudo no mesmo lugar. Subverter a própria ideia do “ devido lugar” das coisas, símbolos e corpos. Pensar quais ainda são os corpos submetidos à opressão, interditando, ostensiva ou veladamente, sua livre circulação. Os corpos do pobre, da mulher, do negro. O corpo do diferente. Essa subversão de uma moral que se pretende legitima, negando a Ética, encontra  pouso (ou seu cruzo) nos pensamentos descoloniais, como nos escritos de Frantz Fanon. É uma subversão que se faz mais forte não por negar a experiência colonial (e também as de classe e patriarcal), mas por tirar partido dela e transforma-la em ação legitima , pois o corpo que foi / é forçado ao lugar “devido” agora vai assumir o lugar que quiser pois reconhece a si mesmo e se torna símbolo / imagem potente.

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Quando as possibilidades são interditadas? Quando e porquê fracassamos? -  Ainda que o conceito de modernidade e do movimento moderno sejam algo que se desenvolve no Brasil a partir de um conceito do colonizador, foi como possibilidade original que ele se formalizou. Essa originalidade nasce de uma capacidade de olhar e analisar o que não é nosso e transformamos em uma expressão genuína por mesclar sensibilidade e pensamento. Antropofagia? Talvez.

Lucio Costa foi buscar no símbolo da cruz cristã aquilo que marca a alma , o corpo e o lugar para sintetizar o projeto utópico de um país jovem e pobre. Sabemos que não deu certo; precisamos entender os motivos. Arrisco dizer que um deles foi negarmos reiteradamente uma riqueza possibilitada por uma tragédia, por um holocausto: a escravidão. O cruzo de culturas no Brasil é um devir auspicioso sempre adiado, negado e levado à vala do esquecimento. Num Brasil distante no tempo, homens negros, escravizados ou libertos, criaram a partir de músicas europeias composições surpreendentes. Eram chamados “mestres mulatos”. Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, também era negro. Suas obras vão além daquilo que eram fisicamente, pois foram executadas por mãos humanas guiadas por um pensamento racional e sensível a partir de suas experiências. 

    

Encruzilhada. A construção dessa exposição permitiu que eu vivenciasse a descolonização do pensamento de maneira a ir além dos textos. Agradeço ao Antônio, aos Ancestrais e a Exu. Que o erro vire acerto e o acerto vire erro!

ANTÔNIO PULQUÉRIO E OS RITUAIS QUE NOS ATRAVESSAM. A ABORDAGEM RITUAL

PhD Andrés I. M. Hernández

A exposição intitulada O que me atravessa que o artista visual Antônio Pulquério inaugura em São Paulo marca, simultaneamente,  o inicio de um novo espaço de reflexão e diálogo sobre arte e outros temas de interesse cultural e artístico, o Ateliê Cruzo.

Nas salas de exposição é possível, seja presencial seja virtual salvando as diferenças sensoriais que caracterizam esses estágios de fruição, confrontar a pluralidade de modalidades artísticas que Pulquério constrói e as suas combinações dialéticas.

Encontros que transitam desde as modalidades até a inserção delas nas discussões provocadas com o espaço arquitetônico, incluindo o extramuros. Particular atenção aos desdobramentos conceituais da escultura e da fotografia expandidas e contaminadas que incentivam a “abordagem da harmonia dissonante na junção de contrários em Matisse, num mundo ainda dissonante ou nas associações de rupturas das teorias de Mark Rothko e Barnett Newman, por exemplo. Ou ainda, nas teorias precursoras do sublime de Nietzche sobre a beleza harmônica: nem centrada na razão e na harmonia nem centrada na desordem criativa e na embriaguez (o apolíneo e o dionisíaco)’; já destacado na exposição Nosso Corpo Ritual no Subsolo Laboratório de Arte em 2020.  

Há na pesquisa do Pulquério que já destaquei também nessa exposição que é a abordagem Ritual (ou RITUAIS) que aparece(m) como processo(s) e/ou pretexto(s) do fazer artístico, que aborda(m) questões/tradições culturais e sociais, provoca(m) tensionamentos nas abordagens de questões  distintivas à religião, às técnicas visuais desdobradas em modalidades artísticas contemporâneas e à manipulação das ferramentas para a concretização das mesmas em um diálogo coeso e vibrante desde o desenho, da escultura, a impressão digital, a colagem, a pintura, a cerâmica, a performance, a instauração e a instalação. 

Com a exposição o artista reforça as rupturas conceituais e espaciais que caracterizam a arte contemporânea ao trazer discussões que se projetam desde a bidimensionalidade das impressões digitais em xeque, a protoesculturas que se diluem em reverberantes instalações: Em teu nome, 2021 e Aos teus olhos, 2020/21

  Os totens da série Aos teus olhos, 2021 construídos pelos fragmentos (frames) desde a cerâmica com suas particulares conjunções formais e conceituais: do barro, a porcelana, os esmaltes, os óxidos, a inercia, a monumentalidade, as incidências irreversíveis entre as obras de arte na exposição; entre elas O que me atravessa, 2020/21  obra que dá título a exposição que com insinuação ao barroco, e barrocas em sua composição todas as obras de arte expostas, se articulam como manifestos visuais que desde seu caráter lúdico extrapolam os limites das cartografias métricas e das técnicas tradicionais para se projetarem como contundentes estruturas de avaliação e assimilação visuais. Assim é iminente a necessidade de balizar as abordagens ao conjunto de obras de arte no deslocamento por todas as dependências do espaço. Isso porque há uma relação aguçada e pretendida entre a definição das obras e os espaços onde estão inseridas, destacando a proeminência cíclica com o entorno das salas de exposição sobre tudo a Praça Rio dos Campos, na Pompéia, São Paulo 

Em O que me atravessa, o artista prioriza a redução minimalista e conceitual para potencializar discursos e leituras desde o que defino como um estágio na sua pesquisa artística. Tão contundente, inovadora e desafiadora como o potencial que o novo espaço Ateliê Cruzo traz o circuito artístico e o sistema da arte desde São Paulo. 

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